O Tabu da Morte
- Mariana Amaro
- 17 de abr. de 2022
- 2 min de leitura

“Does it hurt? Dying?” pergunta Harry Potter ao seu padrinho, Sirius, numa roda com aquelas que parecem ser as almas dos seus queridos familiares.
Essa cena do filme me fez pensar em como, a todo momento, a morte se reafirma como esse tabu, esse enorme mistério! Tudo aquilo que desconhecemos (até então) nos gera incômodo - claro! Está fora do nosso controle, daquilo que nos é familiar. O processo de morrer dói. Mas nunca saberemos qual é realmente a dor de morrer. Quem poderia nos dizer?! O que acontece no momento da morte? O que a gente sente?
O que me levou ao segundo pensamento: ao mesmo tempo que não sabemos o que acontece após a morte, nem como é essa dor, sabemos o que é perder alguém. A dor de quem fica. A dor do velar, enterrar, cremar... A dor do luto. Palavras que, só de escrever, minha respiração acelera e meu peito aperta. Essa dor nós conhecemos. E o que fazemos com ela? Como nós, que ficamos, seguimos depois de ver quem amamos partir? Seguir?!
Podemos ampliar esse diálogo ainda mais quando pensamos no processo do luto como a perda de qualquer coisa significativa para nós: pessoas, animais de estimação, relacionamentos, casas, sonhos, saúde física e mental, a imagem dos nossos corpos, nossas capacidades e habilidades, nossa liberdade e independência… Perdas que doem, machucam, nos fazem entrar em contato com o nosso descontrole, com a impotência, com os medos, as tristezas e as raivas. Não sabemos quando vai ser, como vai ser. Provavelmente vamos viver alguns lutos em vida (sabe-se lá por quanto tempo!), então por que não falamos mais sobre isso? Por que não conversamos com outras pessoas sobre suas experiências e como elas lidaram com as emoções envolvidas? Por que não criamos um espaço de segurança e acolhimento para podermos lidar com as nossas perdas? Por que não fortalecemos os nossos recursos emocionais para lidar da melhor forma com a morte?
Para que continuar colocando a morte no lugar secreto de tabu social, daquilo que é ‘não dito’?
Sentimos tanto medo antes de acontecer que evitamos falar sobre os fins, na esperança (ou fuga?!) de nos preservar e proteger desse sentimento que parece que vai nos destruir por completo! Sentimos muito mais quando continuamos no desconhecido. Mas somos nós mesmos que nos mantemos no desconhecido! Afinal, a vida é finita. Tudo é finito! Tudo tem o seu tempo de ser e estar. A vida também.
“Do not pity the dead, Harry. Pity the living.” Alvo Dumbledore
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